prece curta

os dias estavam azuis e nas asas um sonho comum

palavras esquecidas no fundo do baú

sonhos que nunca seriam reais

gestos estranhos nas curvas da noite

pulos em cada córrego, sorriso em cada olhar.....

andando por onde andei ontem

o vento corre ao contrário

as ruas têm o mesmo cheiro e são sinceras

deixei por lá um pedaço da origem

debaixo de sete palmos ela respira

as flores ainda não foram lá deixadas

as luzes brilham com outros olhos

tenho nas mãos pedaços do lugar

com meus passos ainda ei de voltar

Epitáfio

Eu estou farto de muita coisa

não me transformei em subúrbio

não serei uma válvula sonora

não serei paz

eu quero a destruição de tudo o que é frágil.......

pouso

ontem cansado comigo mesmo me pedi um tempo, olhei para rua e nada vi, olhei para o teto e deus não estava ali, sempre decido como devo decidir, entre ventos gelados e amor consumado, sempre procuro descobrir, porque ainda não consegui mudar um pouco as vírgulas que sempre são pronunciadas por bocas desprovidas de bom senso....

Errossssssssss

escrita errada, sinal de calabouço....

As palavras e as coisas

Todos caminham para o mesmo pôr do Sol
os olhos ofuscados enxergam o mesmo
e sentem o mesmo vento
Corações petrificados a procura de imagens
que os tornem menos expostos ao mal maior
que é viver em sociedade.........

O trabalho emputece os homens

Hoje acordei sem dores nos ombros, sem gosto de café frio pelo corpo, sem relógio me vigiando, sem os amigos e amigas do trabalho, repensando ou não o quanto nos fodemos para que os outros não sejam mais tão fodidos como nós... o trabalho, o trabalho, fardo invisível, mas compreensível quando não o temos.

O preço do nosso trabalho é tão irrelevante que ainda sonhamos com um aumento, no intuito de poder consumir mais ou quem sabe de beber um vinho ou uma cerveja que não seja tão ruim como o nosso coração. O semblante do despertador não apresenta, por enquanto, a alegria que apresentou durante um ano, um século talvez.

Quando eu era moleque tinha um sonho, o de trabalhar em obras, eu era um simples espelho do meu pai, aliás ele era o meu grande exemplo de herói, o herói morreu depois de uma bela surra em mim e na minha mãe, eu tinha só 13 anos, só 13 anos..

Hoje não sei se acordo cedo ou se continu0 sentindo o calor do corpo de minha companheira, não sei se faço alguma coisa ou se apenas penso o que poderei fazer neste meu 1 mês de férias e de greve, sobre a greve creio que me fodi, sobre as férias começo a sentir o cheiro do ralo..

Dias santos

Cai a tarde depois dos banquetes sem sangue
os santos procuram pelo pecado
deus anda sem saber como se livrar
de tanto ódio que os homens tem por si mesmos
a chuva reaje e torna-se mais forte
o cansaço do puros se esconde
e eu tento não saber qual será nosso destino

o eterno retorno

nas ruas corro em zigue zague

os pés em carne viva sangram em demasia

o vento corta os lábios e as noite se aproxima

cães farejam as visceras de mais um mendigo assassinado

o alcool dá um novo dia aos que se negam a aceitar

o real, o cruel, os caídos,

os perdedores rezam em círculo

a espera da salvação, eu escrevo, eu escrevo.......

Teto

os ventos sopram no cair da tarde

moscas percorrem o céu negro

vozes do que já fui retornam

sento meu peso nas nuvens e retorno

prendo meus braços em barco bêbado de Rimbaud

sinto que não tenho o que comemorar

mas percebo que posso remar de novo

eis o grande segredo do universo

Imagens

" Sentir - se bem, é tão contagioso quanto sentir-se mal"

Sentimentos na carne fresca

Os ombros apodrecidos teimam em doer

as veias entúpidas percorrem toda a noite

soluções rápidas em noites de calor intenso

lá longe as lembraças do que restou da familia

brilham luzes eternas das lembranças maternas

o biológico sempre em conflito

sangue que escorre entre os dedos

palavras sinceras na terra dos cegos

que enxergam quando lhes convêm.......

Os ventos que não sopram ao cair da tarde

Velhos barcos perseguidos por torres de vigilia
oceanos distantes que nunca visitarei
ventos frágeis que derrubam seres
o cheiro intenso de qualquer ser morto
realidades contruídas e que nos fazem bem
familias destruídas pelo mal de Caim
lá longe os rabiscos de felicidade
mais distante ainda as luzes fracas do calabouço.........

Nem todos são Hélios, mas o pai é João!!!

Conversando sobre experiências vividas com os moleques que são vítimas e algozes ao mesmo tempo tenho a impressão que não é possível solucionar um dos problemas essenciais da condição juvenil, que deslumbrada com o discurso do consumo, roga a todo momento por uma existencia que dê a eles SIGNIFICADOS.

Ouço a todo o momento que o que faço não dará resultados, mas reflito que em muitos casos o resultado não é levado emm consideração, pois se não há amparo, não há solução, visto que a DIGNIDADE depende de pontos de vista e olha que ponto de vista atualmente e aceitar o grande irmão.

Parafraseando a tragédia humana

" Em verdade, meus amigos, ando entre homens como em fragmentos e membros de homens"

corpos dóceis

as imagens vistas por minha lente viva

ultrapassam a minha sobriedade

entre um gole e outro crio meus dilemas

enfrento os algozes com machados e foices

engulo meu corpo com sangue e pimenta

Sufoco em dose dupla

Do papel para o virtual em poucos minutos, depois de décadas fazendo fanzines, surge como uma rosa na face, um blog em forma de zine, ou seria palavras que anseiam por olhos diferentes.

Poço de anseios e angústias em anos de vivência regado a doses altas de expectativas de minha utopia, que são apagadas todos os dias, mas, mais vale a tentativa do que ser um barco a deriva!!!

Hildebrando Penteado